segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A DIGNIDADE DOCENTE: UM PRINCÍPIO DE JUSTIÇA SOCIAL E DE CIVILIZAÇÃO HUMANA

Socializando ...
vale a pena ler a expressiva análise da Profa. isorlanda que me foi passado por e-mail e referendado por vários correspondentes.

“A DIGNIDADE DOCENTE: UM PRINCÍPIO DE JUSTIÇA SOCIAL E DE CIVILIZAÇÃO HUMANA”
Isorlanda Caracristi
Presidente do Sindicato dos Docentes da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – SINDIUVA (SS ANDES)


O governo do estado vem impondo sumariamente uma política de desvalorização docente de maneira desrespeitosamente escancarada.
Os baixos salários dos professores da rede estadual de ensino fundamental e médio; as destituições dos direitos adquiridos; o aumento da carga horária de trabalho; a morosidade no sistema oficial que delega sobre os direitos funcionais; a negligência em relação às necessidades básicas de funcionamento das universidades estaduais, contratando professores temporários (colaboradores e substitutos) e pessoal técnico-administrativo terceirizado em detrimento da formação de um quadro efetivo de professores e funcionários através de concurso público associados às más condições materiais de trabalho e a falta de assistência estudantil, não só denunciam o doloroso processo de precarização do magistério como, também, revela gritantemente o esforço da política estadual em inviabilizar um projeto de uma universidade/escola pública e gratuita de qualidade, com condições de cumprir plenamente com sua real função social.
A recente postura arrogante e despótica do “ame-o ou deixe-o” (mera coincidência?!) do representante maior do governo estadual diante do movimento reivindicatório dos professores, me faz evocar o pensamento de Nicholas Roerich, que em um momento de seu trabalho “O prazer de servir” diz o seguinte:
“É uma vergonha, quando em um país os professores vivem na pobreza e na necessidade. É uma vergonha para aqueles que sabem que seus filhos estão sendo ensinados por alguém que passa pela dificuldade. E não é somente vergonhoso, quando a nação não cuida dos mestres de sua futura geração: é um sinal de ignorância. Pode-se confiar crianças e jovens a um professor que esteja em depressão? Pode-se esquecer que emanação se cria pelo sofrimento? Pode-se ignorar que o espírito deprimido não evocará o entusiasmo? Pode-se esperar das crianças e jovens a iluminação do espírito, se uma escola for lugar de humilhação e ofensa? As pessoas que esqueceram do professor esqueceram do seu próprio futuro. O professor deveria ser a pessoa mais valiosa nas instituições da nação”.
Faço das palavras de Roerich as minhas, e digo: que ignorância vergonhosa! Que soberba medíocre! Que insensatez vexatória? E acrescento mais, que estamos vivendo um momento em que a palavra “crise” tornou-se o mais “novo clichê” para a dissimulação dessa política globalizante neoliberal ditado pelos grandes especuladores financeiros. E os governantes e administradores institucionais, beneficiários que são e, portanto, eficazes porta-vozes executores dessa política, reproduzem com rigor essa cínica falácia.
Sempre haverá “crise” onde há injustiça social, e a destruição da dignidade docente é uma das piores injustiças, pois possui caráter amplificador de um perverso “efeito dominó”, indo desde a humilhação cotidiana individual da desvalorização profissional ecoando, incessantemente, até às relações históricas hodiernas e futuras de nossa nação que perde, cada vez mais, o respeito pelo professor e pela escola, e o apreço pelo conhecimento como emancipação social. É por isso que as reivindicações docentes não podem ser reduzidas à classificação de “corporativistas”. Toda reivindicação que alce a dignidade do professor é, antes de mais nada, uma luta pela cidadania das gerações atual e futura, um passo a mais na civilidade e na civilização humana.
Lembro que no II Fórum Social Mundial – FSM, realizado em fevereiro de 2002, na cidade de Porto Alegre, o tema da Educação foi amplamente debatido, deliberando-se várias propostas, dentre elas a do professor e, então, presidente do Sindicato Nacional de Ensino Superior da França, Jean-Paul Lainé, que propôs a criação de uma frente internacional de professores para resistir à intervenção do Fundo Monetário Internacional – FMI, nas políticas educacionais dos países, pois esse fenômeno vem acontecendo não apenas na América Latina e nos países pobres, mas também em nações ricas com tradição em educação pública de qualidade. E o saudoso romancista português, José Saramago (Prêmio Nobel de literatura de 1998), encerrou o referido Fórum afirmando que “Hoje, os movimentos de resistência e a ação social são os sinos que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça”. Afirmação essa, há tempos atrás antecipada por Dom Pedro Casaldáliga, que disse: “É o momento de dar valor ao sindicato, aos movimentos populares, às ações associativas. São essas as instâncias capazes de superar não apenas a crise, mas todo um modo de vida que não corresponde às expectativas reais dos seres humanos de verdade”.
Nós professores, trabalhadores da educação, que fazemos por meio do ensino a construção-transformação da sociedade em que vivemos, apesar das dificuldades institucionais e organizativas, estamos lutando contra essa crescente desqualificação do magistério. Um Ensino Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade é a vontade maior que aciona a nossa força de resistência e legitima a imprescindibilidade das nossas demandas trabalhistas.
Toda vontade consciente é a crença assimilada em si mesmo, não é à toa que comumente falamos “a força de vontade”, pois dela emana capacidade de transformação ...
“O homem que emancipa completamente a sua vontade consegue daí por diante criar a si mesmo, dominando as suas faculdades e seu futuro, apesar das limitações históricas de sua época. Já o homem que não consegue realizar essa grande obra dentro de si nunca conhecerá o espírito da vida ... a crise atual é política e individual, não dá para solucioná-la só de um dos lados da balança ... A capacidade renovadora desse duplo esforço da vontade, no plano individual e no plano coletivo, para mim é uma verdade não dogmática, e eu creio plenamente nela.” (historiador Victor Leonardi, em seu livro “Jazz em Jerusalém”).
O SINDIUVA (SS ANDES) se solidariza e coparticipa ativamente das lutas travadas pelos(as) companheiros(as)/colegas professores(as) da rede estadual de ensino fundamental e médio, professores(as) e funcionários(as) dos institutos federais e da UFC (Campus de Sobral), pois fazem parte do mesmo contexto político de lutas empreendidas pelos(as) professores(as) e estudantes da UVA e, por isso, compartilhamos da mesma força de vontade consciente e organizada que batalha por INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO, DEMOCRÁTICAS, GRATUITAS E DE QUALIDADE!

Isorlanda Caracristi
Presidente do Sindicato dos Docentes da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – SINDIUVA (SS ANDES)

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